segunda-feira, 31 de março de 2008

Busca

Para ler ouvindo: The Doors - Riders on the Storm


Então, de uma pedra que poderia estar no meio do deserto, mas disto não saberemos, pois não há como saber onde fica o meio do deserto, o homem olha para o céu:

- Meu coração está apertado, quero saber onde está.

O vento envolve o homem o suficiente para tirar seus pés do chão. Ele carrega o homem e sopra a seu coração.

- O que te aflige?
- Eu não encontro - diz o homem em tom de tristeza.

Pobre homem, não sabe procurar – pensa o vento – Vou levá-lo a alguém capaz de abrir teus olhos.

- Pra onde está me levando?
- Vou te levar para o Sol, ele vai abrir as portas de sua percepção – soprou o vento nos ouvidos do homem.
- O que você quer? - disse o sol para o homem.
- Eu não encontro – Ao vento parecia que ele estava mais triste.

O sol e o vento não são bem versados, não tem o traquejo necessário para uma conversa ou orientação, mesmo que o objeto da busca esteja a um palmo, com isso em mente usando a linguagem do mundo, o sol pediu ajuda ao vento e ao deserto.

- Temos que fazê-lo enxergar.

Tão logo essa ordem foi dada o deserto emprestou suas areias ao vento que as espalhou por léguas é léguas de distância, cobrindo todo o deserto do homem, mas para não ficar de fora o sol brilhou ainda mais forte, mostrando toda a sua coroa de rei e iluminando aquela tempestade de areia como um domingo ensolarado.
Depois de muito tempo uma mão erguida significava algo. Os elementos pararam.

- Desisto! - gritou o homem - Não consigo abrir os olhos, como vou encontrar?

Se o sol, o vento e o deserto tivessem rostos seria possível ver neles a decepção.

- Vou levá-lo! – soprou o vento, tão baixo que o homem quase não ouviu.

Quando descia, o homem pode ver surgir no horizonte a gaivota que tanto o ajudou no passado, sabia que ela poderia ajudá-lo, no entanto, ao contrário dos elementos a gaivota não perguntou nada e foi direto ao assunto.

- Já fizemos esta busca juntos tantas vezes, não acredito que você não consegue ver. - Da mesma forma que chegou a gaivota se foi, o homem pode vê-la se transformar em uma gaivota dourada e sumir no horizonte.

Quase no chão, o homem sentiu uma imensa vontade de chorar, não havia encontrado o que procurava e sentia que seus amigos estavam desapontados. Quando esse pensamento lhe dominava, uma força descomunal o sacudiu e o jogou no chão de uma forma que ele a muito não sentia. Percebeu que essa força que o derrubava vinha de dentro do seu ser, parecia que não queria apenas derrubá-lo, mas esmurrá-lo, como um homem pode esmurrar a si mesmo? Foi quando o vento parou de soprar, o deserto ficou no mais absoluto silêncio, até o sol diminuiu sua intensidade para acompanhar com clareza o que aconteceria. O homem ouviu uma voz que parecia vir de todos os seus poros.

- Homem tolo, sou o que você procura, estou em você, não ao redor, pois na verdade sou você e sempre estarei aqui. Sou o seu sonho!

---------
Foto: Márcio Brigo

O texto faz referencia a "O Alquimista" de Paulo Coelho e a "Fernão Capelo Gaivota" e outras obras de Richard Bach.

Quero agradcer minhas amigas, Irene e Samara, que deram uma força na revisão deste texto.

Terminal

Aqui é o fim da linha, se você não sair agora vai ter que voltar e começar tudo de novo.