quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Universo dentro de Mim ou Ainda não.

Para ler ouvindo: O som desvairado da cidade.

angustia

Acordei, mas estou tão cansado, tão cansado, parece que tem alguém nos meus ombros. Estou deitado em pé de pijama na plataforma do metrô, com a cara amassada e cansada, estou triste, tão triste, uma tristeza que me abraça como uma mulher que usa um vestido negro, ela passa por mim, olha na minha cara e é atropelada pelo metrô. Participo da dança das cadeiras e me sento. Sento feliz, mas triste. Acontece um barulho, não quero ouvir, vou aumentar o mp3, não posso, dois homens trocam socos, não quero ver, mas não posso evitar, estão se batendo, se xingando, de repente sou eu, eu me bato e me xingo, mas depois não sou eu, eu estou vendo tudo, socos e pontapés, alguns separam outros gritam, outros me batem ou me xingam, acabou um desceu e outro ficou e eu por estar cansado fiquei em pé, nossa que tristeza, a mesma mulher de vestido negro olha por entre minhas pernas, passa a mão por minhas coxas, quer pegar o meu pinto, não vou deixar. Quero que ela vá embora, estou cansado, estou com sono, quero ficar em pé, não quero mais ficar sentado. Ela está olhando para minha cara, me mostra a língua, não quero que ela me olhe. Olho para fora e me vejo correndo com a camisa do pijama e uma gravata de seda, cada um na sua devida posição, me sinto tão sujo, tão triste, parece que estou correndo em um pinico, a mulher de negro me olha nos olhos, sinto um calafrio tão grande que me vejo de novo no metrô, com a calça do pijama e o palitó azul. Mas não importa para onde eu olhe a mulher de vestido preto me olha agora ela quer passar aquela mão gelada e nojenta na minha bunda, não vou deixar. Eu quero que ela morra, mas isso não vai ser possível, eu abro a boca, vou gritar, mas quando faço isso minha boca se enche de água, parece que estou em um lago, só consigo respirar pelo nariz, não tenho mais voz, meu Deus. Uma mulher passa mal e cai sobre mim, eu a amparo, seu calor em mim. Sou eu que estou passando mal, sou eu que estou sendo amparado por outros, estou fora de mim mais uma vez, meu Deus que tristeza, que cansaço, eu não posso mais suportar, não posso mais agüentar, não quero mais isso, não quero mais essa vida, só me resta fazer uma coisa, vou descer na próxima estação. Eu me esquivo de vômitos e excrementos até que porta se abra e eu seja lançado para fora como um cloriforme fecal. Em pé deitado no meio da “rua-estação-qualquer lugar-não importa” tiro a calça do pijama forro o chão e uso a gravata para um curativo dos socos que eu tomei na cara e por fim, choro! Choro minha tristeza, choro minha angustia, choro o sentimento de perda, choro questões mal resolvidas, choro por meus pais e por meus filhos, no meio do meu choro me pergunto, por quê ela fez isso, por quê? Ela deve ter tido lá suas razões. Chorando convulsivamente olho para a mulher de vestido negro que agora está com vestido levantado como que pedindo um coito, jogo minhas lágrimas nela, xingo ela de filha da puta, cuspo em sua cara, quero chuta-la, mas não vou fazer isso, posso precisar de suas gentilezas no futuro, então visto o meu capuz de palhaço, imediatamente fico invisível aos seus olhos, e minha vida pode voltar ao normal.

Ainda não!

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Quem acompanha o meu trabalho desde o começo sabe que eu reneguei este tipo de texto há algum tempo, mas eu precisava soltar isso em palavras. Outra coisa este texto não foi e não será revisado, ao menos desta vez quero que os meus sentimentos passem direto para vocês.

O próximo texto é a esperada continuação do Cavaleiro Azul.

Foto: Samuel Möder

7 comentários:

Luiz Alberto Carvalho, 30, jornalista disse...

Pare de revisar seus textos. Gosto muito da forma que escreve, mas nada teve as vísceras expostas como esse. Falar para si, sem pensar nos outros, é uma dádiva que eu não conheço. Parabéns!

Lê Stabiili disse...

Poxa...
estou boba,com a intensidade de cada palavra...
Adorei esse texto....e a forma como vc escreve é um tanto excitante pra quem lê!Demais mesmo...

Gosto de ler coisas assim...."vomitadas",como a vida e os acontecimentos realmente são!!!

Um grande abraço ótima semana pra ti...e Parabéns pelo blog!!!

Anônimo disse...

Nossa Brigo, que intensidade, me sinti sendo a única pessoa na platéia do teatro municipal assistindo um monólogo.
Não foi díficil conseguir uma nova fã!

Unknown disse...

Pra que vc revisa seus textos mesmo???nem precisa guri....Sensacional suas expressoes de sentimentos...Apesar de vc ter me abandonado, estou aqui comentando seus textos..hehehehehhe..Brincadeira guri, nunca te esquecerei...Amei o texto...Bjs

Bel Gasparotto disse...

Que texto forte, rapaz! Angustiante pra caramba, parece que consegue fazer o leitor sentir a angústia que sente. Gostei demais!

Beijo pra você!

Tatá disse...

Sentimento de claustrofobia...É assim que me sinto quando entro no metrô

Anônimo disse...

Rodrigo,

Melâncólico,angustiante,triste,depressivo,um verdadeiro precipício para quem está a beira da loucura....
Realmente adjetivos e opiniões/visões diversas não faltam para esse texto que parecer ser o extirpador denossas mais profundas angústias e sensações.
Claro que os motivos que levaram você à produção de algo tão chocante, e cruelmente verdadeira infelizmente não lhe foram apresentadas da melhor forma possível, um "baque" que nunca(pessoalmente) recebi e acredito não deveria ser aplicado a ninguém, mas é como dizem ... a vida é assim ... e eu não sou desse tipo conformista.
Gostar???? dentro do contexto em que está faz todo o sentido expor seus sentimentos desta forma.
gostei sim , e até parece que isso influenciaria a vossa escrita de alguma forma (sabemos que não).
Abraços...

Terminal

Aqui é o fim da linha, se você não sair agora vai ter que voltar e começar tudo de novo.