terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Cata-logo!

Para ler ao som de Titãs - Sonifera Ilha

 

IMG_0938

 

Eu adoro essa foto, foi uma das primeiras que eu tirei com a câmera, sempre gostei de fotos com a função macro.

 

Aviso, se você já conhece o meu trabalho em fotografia e está achando falta de alguma coisa, calma, pois eu ainda estou catalogando as minhas fotos e estou fazendo isso em ordem cronológica, ainda estou maio deste ano, eu sei que ta rápido, mas mesmo assim é trabalhoso.

 

Hoje também com começa uma nova seção aqui, se chama “Ilusório e Misterioso” isso é porque vou “requentar” os textos do meu antigo blog que saiu do ar, então abaixo das especificações da foto acima (rsrsrs...). Vocês podem ler o texto Maverick, este texto foi escrito em 2003, por conta de uma grande tristeza que uma amiga de faculdade chamada Gabriela estava passando – Gabi, você está obrigada a comentar este texto.

 

Gosto muito deste texto, pois tem velocidade e é urbano, foi o começo de uma fase de escrita que veio terminar com a criação deste blog (Estação Visão).

 

Camera Model Name    Canon PowerShot A550
Shooting Date/Time    22/12/2007 12:55:23
Shooting Mode    Manual
My Colors Mode    Off
Tv (Shutter Speed)    1/160
Av (Aperture Value)    2.6
Exposure Compensation    0
ISO Speed    80(Auto)
Lens    5.8 - 23.2 mm
Focal Length    5.8 mm
White Balance    Custom
AF Mode    Single AF
AF Range Mode    Macro

 

Maverick

(Para ler ouvindo: “Black Night” Deep Purple).

 

maverick

 

Brasil, São Paulo, Avenida radial Leste com a rua Tuiutí, quarta-feira duas e dezesseis da manhã. Um Maverick GT 1979, oito cilindros, vermelho com duas faixas pretas está parado no semáforo. Gabriela está no comando do Maverick, sua bota direita “bomba” o acelerador várias vezes, sua calça de couro está levemente molhada, seu braço direito com uma tatuagem “I love Lucy” está segurando o câmbio em primeira marcha. A sua bota esquerda pressiona até o fundo a embreagem, sua mão esquerda enterrada entre seus cabelos ruivos. Gabriela pensa: “Cadê você Deus?”.


Gabriela está chorando. O semáforo abriu, Gabriela tira o pé esquerdo da embreagem suavemente e quando o Maverick está em movimento ela coloca segunda marcha, seu pé direito aperta o acelerador com tanta força que ela quase se esquece de tirá-lo para colocar a terceira marcha, a rotação do motor é tão alta e estridente que se o rádio estivesse ligado não seria possível ouvi-lo, novamente Gabriela acelera, o segundo estágio da carburação faz o carro chegar a oitenta quilômetros por hora já próximo ao metrô Penha onde ela reduz a marcha para segunda, primeira e pára. Novamente Gabriela pensa: “Cadê Você Deus?”. Ela se pergunta onde estava Deus quando ela, mesmo contra toda sua família, comprou um Maverick GT 1979. O semáforo está verde. Gabriela se pergunta onde estava Deus quando o seu namorado reclamou que ela não dava mais atenção para ele, pois só pensava no Maverick. Primeira marcha. Gabriela se pergunta onde estava Deus quando ela se endividou toda para pagar o Maverick e teve que parar a faculdade. Segunda marcha. Gabriela se pergunta onde estava Deus quando seus pais precisaram dela, pois sua irmã estava doente e ela não tinha dinheiro, já que estava pagando a pintura do seu Maverick. Terceira marcha. Gabriela se pergunta onde estava Deus quando ela cada vez mais apaixonada por seu namorado o sentia cada vez mais distante. Quarta marcha, barulho ensurdecedor, o Maverick está a mais de cento e vinte quilômetros por hora. Ela se pergunta onde estava Deus quando seu namorado terminou o namoro. Quinta marcha, semáforos vermelhos não fazem diferença.


Gabriela chora e suas lágrimas escorrem por seu queixo e caem na sua calça de couro, ela começa a soluçar, ela esta próxima à estação Artur Alvim. O mundo é todo um grande borrão, parte por suas lágrimas e parte por ela estar a cento e vinte quilômetros por hora. Gabriela não tem parâmetros, não está preocupada, nem com medo, só se pergunta: “Cadê você Deus?”. A esta altura o Maverick já está a duzentos quilômetros por hora chegando ao metrô Itaquera. Gabriela e o Maverick, o único casal da noite, o único casal da balada. Uma última vez Gabriela se pergunta: “Cadê você Deus?” E neste momento o Maverick, que já está a duzentos e vinte quilômetros por hora, perde o controle, bate na guia e capota três vezes.


O carro caiu morto em um córrego que fica pouco depois do metrô Itaquera. Gabriela agora não está mais soluçando com as lágrimas e sim com o sangue, o silêncio fere seus ouvidos, ela desmaia.


Barulho, sirenes, Gabriela esta voltando a si, ainda dentro do carro, mas antes que ela possa fazer a pergunta que fez a madrugada toda, Ele se manifesta na voz de um para medico.


- Hoje, no meu plantão, ninguém vai morrer!

Márcio Brigo

 

5 comentários:

_Ton_ disse...

Essa foto é muito simples porém muito bonita...
Quanto ao texto... lembro de você me dar esse texto pra ler ainda na faculdade... gostei muito. Hoje, quando reli, gostei mais ainda... sem dúvida um dos seus melhores. Parece até que essa Gabriela existe.

¬¬

Anônimo disse...

Eu achando que já tinha comentado tudo que havia para se comentar nesse texto nos últimos cinco anos... E, de repente, foi como se eu o estivesse lendo pela primeira vez! Como você mesmo diz, Brigo-Man, acho que esse texto ainda tinha coisas a me dizer... (talvez eu tenha até que comentá-lo aos poucos)

Lembro como se fosse hoje, menos de doze horas depois de desligarmos o telefone, veio você com esse texto que traduzia meus sentimentos de uma forma que talvez nem eu mesma os tivesse percebido, me traduzindo nessa Gabriela tatuada que você criou, tão assustadoramente parecida comigo. Porém, mais que um espelho: O bom conselho de um bom amigo...

O confronto com essa Gabriela tatuada levanta uma pergunta inevitável: Onde está ela agora?

Diz a lenda que o Maverick capotado acabou num desmanche e que a tatuagem desbotou com o tempo (há quem diga que ela ainda é visível em certos dias, quando chove). E Gabriela, hoje, acha mais sensato andar a pé.

Mas acho que fica mais interessante quando você conta...

Abraços... e um pacote de sonho-de-valsa branco!
Gabriela

Luiz Alberto Carvalho, 30, jornalista disse...

Isso aqui é uma sacanagem. Venho aqui no blog renovado e encontro o melhor texto que já escreveu. A descrição da Gabriela só não é o ápice porque o final é genial. Você é o cavaleiro azul, então a cor combina. Mas, é o único ponto que mudaria. Já sabe o que acho das fotos: faz poesia por meio delas. Chega de confetes! Abraços.

Luiz Alberto Carvalho, 30, jornalista disse...

Isso aqui é uma sacanagem. Venho aqui no blog renovado e encontro o melhor texto que já escreveu. A descrição da Gabriela só não é o ápice porque o final é genial. Você é o cavaleiro azul, então a cor combina. Mas, é o único ponto que mudaria. Já sabe o que acho das fotos: faz poesia por meio delas. Chega de confetes! Abraços.

Anônimo disse...

Aliás, um detalhe: acho que formamos uma dupla em desuso. Hoje em dia, quem escreve também fotografa. Somos uma parceria em extição!

Terminal

Aqui é o fim da linha, se você não sair agora vai ter que voltar e começar tudo de novo.